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Há coisas que são difíceis de entender. E de aceitar.
Portugal na CEE foi o que foi e é o que é: a nossa benção!
A CEE, que hoje é uma União Europeia de 28 países, tem um parlamento. Os representantes de cada país, para voar para lá, precisam do voto.
Portugal vota pouco, muito pouco. E a parte de dentro de Portugal, o Interior, ainda vota menos.
Esta montanhosa abstenção, num acto único, agride a democracia e a Europa.
É grave, é perigoso, é ingrato e é pouco inteligente.
A democracia é sócia da liberdade na sociedade das nossas vidas. Sem democracia, não há sociedade.
Ora, a democracia é um processo contínuo tão frágil que, ainda que nos pareça infinito, se pode quebrar a qualquer instante.
Não votar é ignorar o “frágil, pode partir” e empurrar-nos para fora do melhor que temos, sem sabermos para onde vamos.
Não vale queixas de café sobre políticos, campanhas e partidos - nada justifica não votar. Não, não votar não é outra forma de votar, é falhar!
A União Europeia é o mais bem sucedido projeto de democracia, liberdade e paz de todo o mundo.
A Europa, como gostamos de lhe chamar, para países como Portugal e especialmente para regiões como o Interior, foi a mão divina do desenvolvimento rodoviário, cultural e social. O Portugal de hoje, o Interior de hoje, cheiram a novo, a moderno, a desenvolvido, graças à Europa.
Não foi tudo proveito, mas o proveito é incomparavelmente maior que o custo: tcharan, saiu-nos o Euromilhões.
E, como bónus adicional, a Europa é uma espécie de Santuário de Fátima: quando estamos aflitos, quando a vidinha nos corre mal, somos lestos nas preces à Nossa Senhora Europa: tende piedade de nós. A Europa tem tido. Portugal tem esquecido.
Nós Portugueses, Nós do Interior, no dia de nos manifestarmos com o nosso voto para o futuro europeu, o que fazemos? Faltamos, facilitamos, ignoramos.
De vez em quando, a nossa cidadania desenha-se pelo tamanho do país, em ponto pequeno.
Como país europeu, votar ficava-nos tão bem.
Vitor Neves
(publicado no jornal Folha do Centro, 7 de Junho 2019)
Depois do foguetório e dos amuos, importa recuperar o que foi deveras significativo do último acto eleitoral que decorreu em Portugal: autárquicas 2013.
Seja qual for a intencionalidade da análise, na Abstenção devemos reparar, e olhar!
Numa definição de dicionário, podemos dizer que a prática da Abstenção é a privação ou desistência voluntária de um direito político, cívico ou social.
Numa linguagem mais descuidada, sob o toldo político, podemos dizer que a Abstenção é a manifestação de quem não quer fazer parte do regime, não quer saber, não acredita.
A Abstenção em Portugal não pára de subir de acto eleitoral para acto eleitoral.
Não é grave para quem perde, é grave para quem ganha: a vitória pode não representar nada e, pior do que tudo, pode não representar a vontade da maioria, como era suposto e exigido.
Caramba, será que ninguém se incomoda por governar sabendo que metade dos que podiam votar não votaram?
Como sempre, os comentadores de tudo com todos, lá se apressaram em desvalorizar e em valorizar, em justificar com ou sem justificativos, sempre de forma tão elaborada(?) quanto atabalhoada. Aliás, logo apelidaram o acto de não ir votar como «fenómeno».
Chega a dar vontade de rir.
TVs, Rádios e Jornais precisam de se encher de forma mais ou menos económica... e não falta gente para dizer que «é assim».
O fim da democracia, o fim dos partidos, a ruptura com as políticas, o fim do sistema, o sinal do protesto, os independentes, a emigração, a migração, o desinteresse social, o egoísmo, etc., etc., ouviu-se de tudo para explicar o «fenómeno»....
Nós, aqui neste espaço, não vamos por aí....
Vamos, ainda que em definição de frase-feita, juntos com aqueles que reclamam a sintonia com presente, tendo em conta as lições do passado e sabendo que futuro de amanhã não será igual ao hoje, e que hoje não se vive como ontem.
E hoje vota-se em Portugal como ontem e como sempre.
Antes de votar, temos um dia para reflectir, em silêncio. Votamos ao domingo, na nossa freguesia.
Usamos uns papelinhos, uma lapiseira, fazemos cruzinhas com a cabeça enfiada entre pedaços de "tabopan". Os papelinhos, bem dobradinhos, entram na ranhura das urnas (que raio de designação!), onde vão aguardar que alguém os conte e guarda-se o cartão de eleitor junto ao cartão do cidadão.
As mesas de voto são na escola, na casa do povo, no pavilhão, na junta e em outros locais adaptados.
A maioria que vota, vai votar depois de ir à missa, depois da bica e depois do passeio dos tristes.
Há decadas que votamos assim.
Estamos a chegar à era tecnológica, que talvez seja mais impactante que a revolução industrial, com a internet como o novo mundo do tudo, e votar continua a ser como sempre foi, uma espécie de "RTP Memória" da democracia.
Num tempo de coolness, kiss, infoxication, NBO, SoMoLo, e-commerce, m-commerce, touchpoints, mashup e de omnicanal, num tempo em que todos somos pela conveniência, pelo low cost, pelo ser prático e rápido, pelo ser moderno, votar é "o disco de vinil", tem graça mas para cada vez menos.
E que tal votar via internet, num qualquer dia da semana, de qualquer lado, a qualquer hora?
E depois falamos de Abstenção, combinado?
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