Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


«...o que acontece na vida de todos os dias não é as pessoas exprimirem apenas aquilo que já formularam mentalmente, que já sabem, que gostam e defendem; também dizemos por vezes coisas que nos surpreendem, ou até que nos ofendem, antes mesmo de, eventualmente, ofenderem terceiros. É comum encontrarmos obstáculos e resistências quando comunicamos aquilo que nos vai na cabeça; ou então dizemos frases que não controlamos bem, e que nos parecem inaceitáveis, contraditórias com os valores que professamos. Por isso é que algumas altercações no trânsito descambam em tiradas racistas, mesmo quando proferidas por indivíduos que não são racistas, ou que não têm consciência disso. A "liberdade de expressão" também permite que as pessoas digam aquilo que não querem dizer. E mais: que ouçam, espantadas, aquilo que têm para dizer, especialmente quando não sabiam antes.

Talvez a liberdade nos liberte, e nos liberte através da palavra, mas isso não é garantido. Herdeiros de civilizações do livro, atribuímos às palavras uma importância desmedida, quase sacralizada. Elas são o fundamento da crença e da identidade. De tal modo que nos desaguisados são quase sempre sobre as palavras e a sua interpretação, sobre aquilo que as pessoas ouvem naquilo que dizemos. Experimentamos uma profunda ansiedade quanto às palavras dos outros no espaço público porque sentimos a mesma ansiedade quanto às nossas próprias palavras. Tememos as diferenças entre as nossas intenções e as consequências das palavras. Ou a diferença entre as intenções e a nossa verdade íntima. Palavras e ideias têm uma vida mental autónoma. E todas as palavras, as que exprimimos e as que reprimimos, convocam o fantasma do inaceitável. O inaceitável das convicções sociais, das ideologias, dos tabus, das fobias. O inaceitável dos nossos desejos e pensamentos obscuros, que dizemos e que ouvimos quando nos exprimimos em liberdade.»   

Como gostava de ter escrito o que acima  se publica. É tamanha a identificação com a reflexão e a opinião que se assume a liberdade de divulgação como uma "Liberdade de Expressão", com a devida vénia a Pedro Mexia, que escreveu este texto (Dizer o Quê) na revista E na edição do semanário Expresso de 31 de Janeiro. 

Para ler e reler. E ler outra vez e voltar a ler de vez em quando.

 

(publicado em radioboanova.com em 1 de Fevereiro de 2015)

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 21:47


Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

calendário

Março 2021

D S T Q Q S S
123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
28293031

Posts recentes




Arquivo

  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2020
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2019
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2018
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2017
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2016
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2015
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2014
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2013
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2012
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D