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Ao olhar para o teclado apeteceu-me virar o natal ao contrário, numa tentativa quase desesperada para conseguir que o natal voltasse a ser o natal do meu ser criança.
O natal está cada vez mais “fast and go”, cheio de tudo que é nada, com muita luz e pouca luminosidade.
Eu (ainda) gosto do natal, mas não gosto de escrever no natal. Mas…
…aqui estou eu! Com a serra nos olhos, o frio no rosto, sentado à mesa farta de sabores, no ambiente onde o natal faz sentido, ainda que o sinta cada vez menos sentido, e encostado num canto do tempo para poder escrever.
Podia fazer este texto cair nos lugares comuns daqueles que sempre lamentam a loucura das compras, o mau gosto das mensagens “geraldinas”, os excessos consumistas, as falsidades das fingidas harmonias familiares, o prazer simulado de reencontros que são obrigações da tradição e não do coração.
Podia fazer este texto ignorar o natal, em vez de o tentar virar para trás, e olhar o ano em formato de inventário e tabelas de mais e menos e de sobe e desce.
E até podia não fazer este texto.
Volto a olhar o teclado e eis que me apetece juntar letras para pedir uma prenda ao Pai Natal.
Sim, uma prenda!
Ainda que mais pobres, ainda que mais atados em impostos, ainda que com falta de trabalho, ainda que haja necessidade de partir, ainda assim, não vou incomodar o Pai Natal com coisas que homens mais novos têm a obrigação de resolver.
Quero pedir ao Pai Natal JUÍZO, juízo para combater “ismos” perigosos:
Extremismos sem limites e sem fim, radicalismos de risco louco, experimentalismos sem senso.
Sim, JUÍZO! Nós, os humanos, precisamos de ter juízo, para que esta busca louca por novas experiências, por novas aventuras, por novas emoções, não acabe num animalesco suicídio colectivo resultante de tudo ser possível e aceitável.
E num instante o teclado fez-me voltar ao meu natal criança e ao que sempre me dizia quem me educou:
- Tem juízo.
Agora, como outrora, digo eu:
- Tenham juízo. Como prenda.
(publicado no jornal Folha do Centro em 29 de Dezembro de 2014)
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