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Depois do foguetório e dos amuos, importa recuperar o que foi deveras significativo do último acto eleitoral que decorreu em Portugal: autárquicas 2013.
Seja qual for a intencionalidade da análise, na Abstenção devemos reparar, e olhar!
Numa definição de dicionário, podemos dizer que a prática da Abstenção é a privação ou desistência voluntária de um direito político, cívico ou social.
Numa linguagem mais descuidada, sob o toldo político, podemos dizer que a Abstenção é a manifestação de quem não quer fazer parte do regime, não quer saber, não acredita.
A Abstenção em Portugal não pára de subir de acto eleitoral para acto eleitoral.
Não é grave para quem perde, é grave para quem ganha: a vitória pode não representar nada e, pior do que tudo, pode não representar a vontade da maioria, como era suposto e exigido.
Caramba, será que ninguém se incomoda por governar sabendo que metade dos que podiam votar não votaram?
Como sempre, os comentadores de tudo com todos, lá se apressaram em desvalorizar e em valorizar, em justificar com ou sem justificativos, sempre de forma tão elaborada(?) quanto atabalhoada. Aliás, logo apelidaram o acto de não ir votar como «fenómeno».
Chega a dar vontade de rir.
TVs, Rádios e Jornais precisam de se encher de forma mais ou menos económica... e não falta gente para dizer que «é assim».
O fim da democracia, o fim dos partidos, a ruptura com as políticas, o fim do sistema, o sinal do protesto, os independentes, a emigração, a migração, o desinteresse social, o egoísmo, etc., etc., ouviu-se de tudo para explicar o «fenómeno»....
Nós, aqui neste espaço, não vamos por aí....
Vamos, ainda que em definição de frase-feita, juntos com aqueles que reclamam a sintonia com presente, tendo em conta as lições do passado e sabendo que futuro de amanhã não será igual ao hoje, e que hoje não se vive como ontem.
E hoje vota-se em Portugal como ontem e como sempre.
Antes de votar, temos um dia para reflectir, em silêncio. Votamos ao domingo, na nossa freguesia.
Usamos uns papelinhos, uma lapiseira, fazemos cruzinhas com a cabeça enfiada entre pedaços de "tabopan". Os papelinhos, bem dobradinhos, entram na ranhura das urnas (que raio de designação!), onde vão aguardar que alguém os conte e guarda-se o cartão de eleitor junto ao cartão do cidadão.
As mesas de voto são na escola, na casa do povo, no pavilhão, na junta e em outros locais adaptados.
A maioria que vota, vai votar depois de ir à missa, depois da bica e depois do passeio dos tristes.
Há decadas que votamos assim.
Estamos a chegar à era tecnológica, que talvez seja mais impactante que a revolução industrial, com a internet como o novo mundo do tudo, e votar continua a ser como sempre foi, uma espécie de "RTP Memória" da democracia.
Num tempo de coolness, kiss, infoxication, NBO, SoMoLo, e-commerce, m-commerce, touchpoints, mashup e de omnicanal, num tempo em que todos somos pela conveniência, pelo low cost, pelo ser prático e rápido, pelo ser moderno, votar é "o disco de vinil", tem graça mas para cada vez menos.
E que tal votar via internet, num qualquer dia da semana, de qualquer lado, a qualquer hora?
E depois falamos de Abstenção, combinado?
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