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A vida no Interior é fixe.
Fixe pode derivar de imensos atributos, mas não deriva de barato.
Se alguém faz um plano de vida, com pressupostos de que no Interior é Mais barato, é bom que saiba que só o plano é fixe: caso não (re)faça bem as contas é bem possível que se lixe!
No Interior pode não ser necessário tanto dinheiro para viver bem, mas não se gasta menos dinheiro se a base de análise do consumo for a mesma, por exemplo, de alguém que viva mais encostado ao mar. No Interior consome-se menos e por tal gasta-se menos: há menos oferta e sabe-se como a escala da oferta empurra a escala da procura.
No Interior, hoje, para a vida ser fixe, cada vez mais é preciso mais dinheiro. A economia de subsistência, que tanto dinheiro dispensava, transformou-se em “ervados” campos de cultivo abandonados. A doméstica criação de galinhas, coelhos e porcos deu lugar ao cão e gato de estimação e companhia. E lá se foi a economia.
Vamos a “casos da vidinha real”:
- um pequeno almoço, absolutamente continental, pode custar mais 10 ou 15 cêntimos em pastelaria do Interior semelhante a uma pastelaria do litoral;
- um almoço executivo, em restaurante de nível médio-superior, pode custar mais dois ou três euros no Interior - e o prato-do-dia também;
- nos supermercados do litoral, há mais e melhores promoções de tudo ou quase tudo que ocupa as prateleiras, bem mais diversificadas de opções;
- contratar um operário no Interior é mais dispendioso no Interior 5 a 10%;
- contratar um quadro superior para uma empresa, caso haja disponível no mercado de emprego, é sempre mais caro no Interior e a diferença de custo total é quase sempre superior a 20%;
- comprar roupa, calçado e outras utilidades no litoral é sempre mais fácil e muito mais fácil encontrar bom e… barato!
A lista podia continuar mas já chega para ilustrar.
Sim, no Interior vive-se bem com menos dinheiro, mas não é mais barato – não é, não é!
As distâncias entre as coias “são mais curtas”, as filas de trânsito são de três carros, tudo está à mão em menos de um quarto de hora, vai-se a muito lado a pé, há muita coisa que no litoral é paga pelo dinheiro privado e que no Interior se paga com o dinheiro público: é da não necessidade de gastar que o Interior é fixe para viver bem - pois é, pois é!
- Que ninguém pense que no Interior é que é barato! Pode sair-lhe caro.
Vitor Neves
(publicado no jornal Folha do Centro, 21 Fevereiro 2019)
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