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Melícias. Sabe quem é? Sabemos quem é. Vítor Melícias é o homem que, não há muito tempo, foi considerado por muitos o padre do regime do centrão político, PS-PSD, que há muito nos governa.
O poder político em Portugal sempre viveu muito próximo da Igreja Católica. Mesmo o laico Mário Soares era cuidadoso com os católicos, onde tinha muitos “mon ami”.
Sendo este o contexto, não deixa de ter razão o meu amigo e Historiador Luís Torgal, quando recorda que “as relações perigosas entre os poderes profanos e os poderes sagrados não trazem boas memórias”.
O passado, sempre nos ensina que é melhor evitar do que corrigir ou remendar.
Vem tudo isto a propósito da “animação” política que se vive em Oliveira do Hospital, depois de uma capa do JN em que se anunciava que a autarquia local aprovou um subsídio para pagar os salários de três padres.
Alexandrino, o presidente do município de Oliveira do Hospital, que ainda há pouco tinha estado num Altar, algo que tinha passado ao lado de quase todos, incluindo da comunicação social nacional, viu-se sob alçada da inquisição política da oposição.
É óbvio que o assunto é dado a gerar polémica. É óbvio que neste momento de pandemia e pandemónio económico e social, era desejável que tudo isto não estivesse a acontecer.
Aliás, como bem também sublinha Luís Torgal “hoje o Estado é laico, ou, melhor dizendo, tendencialmente laico, pois esse preceito não está objetivamente inscrito na nossa Constituição…. De resto, nunca devemos esquecer que a alegada neutralidade do Estado em matéria religiosa foi uma conquista longa e bem difícil das sociedades modernas, democráticas, pluralistas e tolerantes”.
Importa pouco o detalhe sobre para o que foi ou para o que é, o dinheiro dado pela Câmara à Igreja Católica local.
Já importa muito saber que o que foi feito pelo executivo de Alexandrino, não foi mais do que mais um “pecado” a somar a outros, protagonizados por “pecadores” de outras cores políticas.
Isto é, a nível local repete-se o comportamento do centrão nacional, no relacionamento atencioso com a Igreja Católica, “com a benção” de homens como Vítor Melícias.
Espanta que perante tantas e tamanhas evidências, ainda haja pseudos-apóstolos a reivindicar santidade e até, pasme-se, virgindade.
Valha-nos, como sempre, a imensa e misericordiosa paciência de Deus, Nosso Senhor.
Vitor Neves
(publicado no jornal Folha do Centro, Junho 2020)
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