Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
É de Oliveira do Hospital? Não? Então não leia, por favor.
Este texto é só para si, para mim, para nós que somos da cidade do Cavaleiro.
A tristeza que muito alimenta a poesia, aqui vai ter que ser escrita em prosa grossa.
Numa visita relâmpago à cidade e após um almoço ainda mais veloz, fui tomar café à outra parte da frente, que sempre parece ser a parte de traz, do shopping center areias.
Não ia ali há anos. Decidi entrar para ver como estava o shopping.
Foi um choque frontal, brutal. Ultrapassado, gasto, envelhecido, descuidado, (quase) vazio, sujo.
Desolador.
O shopping fugiu dali. Recordei lojas que ficaram na memória da minha vida: a Top Sport do meu amigo e já falecido António Mendonça; a Udisco do meu amigo Luís Moreira. E outras…
O Shopping era a cereja que suportava o bolo que era o prédio areias, onde fui muitas vezes feliz. Foi ali que a Rádio Boa Nova começou e comecei ali com ela, até hoje; foi ali que dei os primeiros passos para entrar no mundo da gestão das empresas, até hoje; era ali que o meu amigo e também já falecido Neca Areias, abria a porta do último andar para me dizer que sim a mais um contrato de publicidade para a Rádio; talvez tenha sido ali que alguém, com o topo sob os pés, teve a ideia dos drones, tal a vista, tal a ilusão que nos fazia voar a imaginação e o prazer de ver por cima e até lá longe.
O Shopping Areias já não existe. Já nem resiste. É um espaço triste.
No coração da cidade, ao lado do Café Portugal e da Câmara Municipal?! Como foi possível, como é possível?
Talvez o espaço já não seja espaço para o negócio. Talvez já não haja negócio para o espaço. Talvez seja preciso fazer obras, pensar o espaço, dar outro uso ao espaço…ou fechar o espaço!
A localização é demasiado boa e demasiado importante para a cidade: se “aquilo” não pode sair dali, não pode estar assim. “Aquilo” precisa de ser outra coisa: nem com sorte se livra da morte, o shopping.
O Shopping areias não é caso único. É um caso evidente de um dos grandes dilemas do interior - o nada não gera dinheiro, sem dinheiro só fica o nada.
E não adianta nada apontar o dedo “ao dono”. Não há negócio, não há investimento.
Aqui está um caso que o poder público não pode ignorar. Pode e deve cuidar.
Vitor Neves
(publicado no jornal Folha do Centro, 7 de Dezembro 2018)
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.