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Um verão sem foguetes.
Um tempo sem festas.
Um Interior mais cheio de silêncio e mais saudoso de sorrisos.
As festas para o Interior são encontros, regressos e saudades. Nos dias das festas, quais ajuntamentos, o Interior parece ser terra de muitos, muito felizes.
O virús ameaçou-nos a saúde e a vida, cortou-nos a liberdade e acabou com as festas – e até o silêncio passou a fazer barulho.
As festas para o Interior são uma espécie de respirar coletivo, um grito de grupo pela vida, entre copos, bifanas e farturas; artistas da rádio e tv, selfies para as redes sociais e o uau costumeiro sob o fogo de artifício do arraial.
As festas para o Interior são o quase tudo para quem quase não tem mais nada, ou como a sua ausência faz parecer o pão (mais) amassado pelo diabo, tal é o vazio da falta do circo.
Um olhar pelo exemplo de Oliveira do Hospital - meses sem festas: sem a festa do queijo serra da estrela, sem a semana cultural e a feira do livro, sem eventos desportivos, sem a noite das marchas, sem a Expoh, sem nada.
Com tanto nada, sobrou pouco para celebrar a vida no concelho rei da festa da beira interior.
Talvez não se volte a escutar tão cedo, quem lhe chamava “O Município das Festas”, após tamanha queda na realidade do buraco dos dias sem folia.
A Covid 19 apagou a luz do Interior, fechou os sorrisos, confinou os abraços dos reencontros e tapou a alegria com a máscara da tristeza.
O vírus provoca dor e perda um pouco por todo lado. No Interior, também. Mas no Interior o vírus parece ter tirado o que faltava tirar: a festa.
Que esta crónica, da morte da festa no Interior, tenha sido manifestamente exagerada.
Que esta crónica, não seja mais uma página de uma morte anunciada.
O Interior precisa de voltar a sentir a ressaca do “Foi bonita a festa, pá!”.
E depressa, pá!
Vitor Neves
(publicado no jornal Folha do Centro, 6 de Agosto de 2020)
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