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- Não sei se concordas comigo, mas esta festa, para mim, é uma prova de vida! 

Quem começa assim a conversa comigo é o António (nome fictício), num encontro não combinado num café da cidade, com pouca gente nas mesas ao lado.

- Eu gosto da festa do queijo. Boa ideia chamar-lhe festa. Há comida e bebida com fartura. No ano passado passei os dois dias a comer e a beber. Nem vi as gajas da televisão. Cheguei a casa a rir...dei uma beijoca à mulher, mas ela...vai dormir, vai dormir!...

Sabes, isto parece que está tudo cada vez pior. Mesmo queijo há pouco. Mas é barato. Não há ovelhas. Não há quem tome conta delas. Mas quem é que quer ser pastor?

Isto, depois de ter ardido, foi uma merda. Ainda me assustei. Aquilo foi o diabo. Por isso é que gosto tanto desta festa. Parece que estamos a fazer o manguito ao fogo: Toma! Embrulha! Ainda cá estamos!

Ah! Há outra coisa que eu gosto. Isto fica cheio de gente. Oh pá, até custa andar no centro da cidade. Há gente e carros por todo o lado. É uma festarola. Parece que até fico mais novo. Um gajo recorda muita coisa, sabes.

Estavas cá no ano passado? Há dois ou três anos vi-te na televisão...estavas, estavas! Eu vi-te, na rádio. Ai, isso foi de tarde. Antes vi-te no grande almoço, na tenda, numa mesa ao lado da mesa do Marcelo. Gosto do Homem. E tu? Na festa, por onde ele anda, é a loucura. Mas ainda não tenho uma fotografia com ele. Pode ser que seja este ano. Ele vem cá? Tenho que pedir ao Alexandrino. Também gosto dele, fala com toda a gente e também anda por todo lado. Teve azar com o caraças do fogo.

Eu gosto de ver cá tanta gente. Chateia-me ver isto vazio. Há dias que parece um deserto. É porreiro ver tanta gente de tanto sítio.

Estás cá este ano? Este ano vai ser melhor do que no ano passado. Temos que ir beber um copo, os dois.

No ano passado estávamos todos f......! Isto ainda estava preto, ainda cheirava ao fogo. O pessoal andava de cabeça baixa, triste. Morreu muita gente, pá. E muitos perderam tudo. Olha eu bebi e comi para esquecer! Sabes como é, um gajo tem que arribar.

Agora, já passou mais de um ano, a coisa já está mais verde, alguns já voltaram a ter casa. Vai ser uma festa. Tem que ser. É preciso.

 

( - ...estás a fazer muitas perguntas! Vais escrever o que te estou a dizer?-

- vou.

- Oh pá, tu vê lá. Não digas o meu nome. Mas vais escrever mesmo?)

 

Vitor Neves

 

(publicado no jornal Folha do Centro, 12 de Março 2019)

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publicado às 21:24


1 comentário

De Anónimo a 15.03.2019 às 21:42

Adorei este texto...o meu sobrinho continua em forma... um abraço para ti , esposa e filhos

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