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O preto do postal de Natal do Interior apagou-se.
Passou um ano e a Natureza fez a sua parte do Renascer. Passou um ano e parece que a natureza do ser humano não fez tão bem a sua parte.
Um Natal depois do Natal a seguir ao fogo, fica a ideia que muito aconteceu ao contrário.
Depois da “festa” do Primeiro Ano Depois, há muito Não quando se vê tudo através do retrovisor.
A solidariedade Não foi sempre bem gerida; a honestidade Não foi o pressuposto de todos; a celeridade Não foi a esperada; a unidade Não foi sempre realidade.
Neste tempo de festas, procure dar tempo ao tempo de olhar a Natureza - o preto do Natal passado morreu.
A força da Natureza esmagou o preto com o verde, a cor do Renascer.
Há paisagens que (quase) já não permitem a memória do fogo: impressionante.
A Natureza devia estar aborrecida com a natureza do ser humano. E há seres humanos que deviam usar a sua natureza para converter, para contagiar, para provocar a pobre natureza de Outros.
Há pessoas que assumiram o Renascer como uma prioridade de vida e inspirados pela Natureza e pela força da sua natureza fizeram a sua reconstrução. Outras, Não.
É desconcertante pensar que também desta vez o Interior não foi capaz de ser Todos. Só mesmo a Natureza está Toda verde…e viva!
Neste natal já não cheira ao queimado, mas cheira que muito importa fazer para não se continuar a queimar o futuro!
Há uma dolorosa ironia que agora nos queima: a chama do fogo apagou-se.
Sim, os ministros deixaram de passar; os turistas de ocasião deixaram de vir; a solidariedade deixou de chegar; as notícias deixaram de sair.
Ou o Interior é veloz na reconstrução, inteligente a olhar em frente e corajoso para se deixar de lamentos; ou o Interior será cada vez mais deserto no labirinto do seu próprio interior.
Este Natal Verde que a Natureza oferece ao Interior, é um mandato para fazer futuro.
Vitor Neves
(publicado no jornal Folha do Centro, 21 de Dezembro 2018)
É de Oliveira do Hospital? Não? Então não leia, por favor.
Este texto é só para si, para mim, para nós que somos da cidade do Cavaleiro.
A tristeza que muito alimenta a poesia, aqui vai ter que ser escrita em prosa grossa.
Numa visita relâmpago à cidade e após um almoço ainda mais veloz, fui tomar café à outra parte da frente, que sempre parece ser a parte de traz, do shopping center areias.
Não ia ali há anos. Decidi entrar para ver como estava o shopping.
Foi um choque frontal, brutal. Ultrapassado, gasto, envelhecido, descuidado, (quase) vazio, sujo.
Desolador.
O shopping fugiu dali. Recordei lojas que ficaram na memória da minha vida: a Top Sport do meu amigo e já falecido António Mendonça; a Udisco do meu amigo Luís Moreira. E outras…
O Shopping era a cereja que suportava o bolo que era o prédio areias, onde fui muitas vezes feliz. Foi ali que a Rádio Boa Nova começou e comecei ali com ela, até hoje; foi ali que dei os primeiros passos para entrar no mundo da gestão das empresas, até hoje; era ali que o meu amigo e também já falecido Neca Areias, abria a porta do último andar para me dizer que sim a mais um contrato de publicidade para a Rádio; talvez tenha sido ali que alguém, com o topo sob os pés, teve a ideia dos drones, tal a vista, tal a ilusão que nos fazia voar a imaginação e o prazer de ver por cima e até lá longe.
O Shopping Areias já não existe. Já nem resiste. É um espaço triste.
No coração da cidade, ao lado do Café Portugal e da Câmara Municipal?! Como foi possível, como é possível?
Talvez o espaço já não seja espaço para o negócio. Talvez já não haja negócio para o espaço. Talvez seja preciso fazer obras, pensar o espaço, dar outro uso ao espaço…ou fechar o espaço!
A localização é demasiado boa e demasiado importante para a cidade: se “aquilo” não pode sair dali, não pode estar assim. “Aquilo” precisa de ser outra coisa: nem com sorte se livra da morte, o shopping.
O Shopping areias não é caso único. É um caso evidente de um dos grandes dilemas do interior - o nada não gera dinheiro, sem dinheiro só fica o nada.
E não adianta nada apontar o dedo “ao dono”. Não há negócio, não há investimento.
Aqui está um caso que o poder público não pode ignorar. Pode e deve cuidar.
Vitor Neves
(publicado no jornal Folha do Centro, 7 de Dezembro 2018)
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