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De saída de Julho, aqui se resume em 9 pontos mais um, o Agosto que vamos ter(?):
Verão.
Portugal aposta em ser um meio-deserto, com mais de metade do seu território às moscas ou ocupado por meia-dúzia de desalinhados, ou deserdados, da sociedade e da vida.
Nos últimos tempos tenho passado pelo país profundo e não é difícil perceber que há uma parte do continente lusitano que está à beira do fim, do nada, do fundo.
Faltam pessoas.
Não se vêem crianças. Os mais velhos vão morrendo. Os de meia-idade partiram e não voltaram. Os jovens partem e não voltarão.
Faltam acessos.
O dinheiro do Portugal 2020 não quer mais estradas, nem acabar estradas inacabadas. O sítio vai continuar a ficar longe, às curvas, e com vias estreitas. O alcatrão a mais de ontem foi a menos por ali e agora é longe, perdão, tarde.
Faltam hospitais.
O hospital fechou, faz tempo. O centro de saúde só abre de dia. A noite é para dormir, não é para ficar doente. A dor pode esperar: pelo dia seguinte, pelo transporte, pela sorte. Aguenta, aguenta.
Faltam empresas.
A fábrica fechou. A loja fechou. A residencial encerrou. E o café-restaurante ficou com o monopólio do vazio. Sem emprego, sem trabalho, falta o conteúdo da dignidade da subsistência e da sobrevivência.
Faltam escolas.
Ainda lá está o edifício, o espaço do recreio, o parque desportivo abandonado, no meio de um absurdo silêncio que apaga o imaginário da saudade do grito e das corridas das crianças. Fechou-se a educação.
Faltam tribunais.
Era ali. Ainda lá está a balança esculpida na parede, mas o juiz já lá não vai. Eram poucos os processos, faltavam crimes. A justiça foi-se embora. Uma injustiça.
Todas estas faltas se cruzam, provocam-se umas às outras, geram-se entre si e, entrelaçadas, matam tudo, até a esperança.
Casa vazias. Terrenos sem cultivo. Ruas desertas.
Sem estrada.
Sem hospital.
Sem trabalho.
Sem escola.
Sem tribunal.
Sem gente.
Não resta nada para além da natureza. Mas a natureza, com tanta solidão, voltou a ser selvagem.
Se não há lá nada, alguém decide que é para acabar. Acabou.
E não lhe chamem Interior! Ao nada chama-se nada.
E se nada for feito, vai tudo a eito. E o tudo resume-se assim: o Interior está lixado!
E Portugal vai ser metade.
(publicado, em 18 de Fevereiro de 2014, no jornal Folha do Centro e aqui reeditado no contexto da jornada de luta que vai acontecer sexta-feitra, dia 24, em Oliveira do Hospital)
Facilitar com método. Ver e não facilitar. Facilitar sim, mas tanto? É melhor não facilitar e partir.
Para compreender, facilita ler o que se segue.
Manual de Enriquecimento
"...Só o método. Começa assim: sentamo-nos à mesa. Em cima, contratos; debaixo, envelopes. Em cima, contas bancárias; debaixo offshores. ...
Outra vez, só método. Se a empresa que eu lidero comprar a tua empresa ou contratá-la como fornecedora quanto ganho eu?... "
"...Profissão: facilitador. É o melhor nome de sempre para comissionistas. Gente que faz pontes, tem os números de
telefone certos, abre portas, fecha negócios. ... O problema é quando as comissões dos negócios se
transformam no negócio das comissões. ...esta forma de fazer por interesse negócios sem interesse."
Pedro Santos Guerreiro - Expresso, 18 de Julho de 2015
Visionário?
"O Presidente da República disse-me que isto de fabricar sapatos era coisa para chineses; que o futuro de Portugal era tecnológico, científico e informático. Sim, claro, e lunático, pensei eu."
Fortunato Frederico - Empresário (sector do calçado) - Marcas:Kyaia/Fly London, Presidente da APICCAPS
(fonte: El País)
Lava Jato Luso???
Armando Vara - foi gestor da Camargo Corrêa - África
José Sócrates - viagem de Lula para apresentação do livro foi paga pela Odebrecht
Proença de Carvalho - foi nomeado presidente da Cimpor pela Camargo Corrêa
Passos Coelho - recebeu pedido de Lula para dar atenção aos interesses da Odebrecht na privatização da EGF.
(fonte: CM, hoje)
Fogo e Fuga
"em quatro anos, seis mil bombeiros emigraram"
(fonte: DN, hoje)
Assim vão os dias deste verão, cheios de espertezas e (in)certezas...
No verão, um texto de verão. E ao ler verão que assim é. Vai ler?
No dia 30 de Junho foi o dia mundial das redes sociais. Foi em 2010 que as redes sociais passaram a ter o seu dia...
As redes sociais são uma das maiores revoluções dos tempos modernos, são uma realidade incontornável, são um desafio exigente das nossas vidas e, por fim, são um meio para que a vida de cada um possa ser melhor.
Não há nada de "perigoso" nas redes sociais. Nada. A utilização é que pode ser mais ou menos "perigosa", tal como acontece com a electricidade, com uma faca ou até com um livro.
Este fim de semana o semanário Expresso publica um (pobre) texto onde se diz que o facebook faz mal ao casamento. Falso. O facebook apenas tornou evidente como estava mal o casamento, ou a relação. Um site de advogados Inglês, "Divorce Online", diz que o facebook já causou mais de 28 milhões de divórcios. Na América, mais uma associação de advogados, diz que em 80% dos divórcios o facebook é citado como evidência de traição. Note-se, a subtil diferença: não é a causa, é a evidência. Que pena não terem feito estatísticas sobre as sms...ou até as "selfies"! Que pena.
No mesmo texto, o Português João Canavilhas, professor especialista em comunicação e tecnologias na Universidade da Beira Interior, esclarece o óbvio: "O facebook é aquilo que quisermos fazer dele. Tanto pode servir para promover a infidelidade como para reforçar a fidelidade. É um amplificador de atitudes e comportamentos." Isto é, a base é o comportamento das pessoas, não a tecnologia e/ou rede. A tecnologia e/ou rede apenas amplifica, torna visível ou acelera o que já existe. Sim, o facebook é um facilitador acelerado.
As pessoas -muitas, não todas, nas redes há de tudo! - vão para as redes sociais, sem qualquer filtro, mostrar-se e dizer-se como não o conseguem fazer pessoalmente. E aqui as mulheres levam a melhor. Louras, ou aproximadas, bronzeadas, ou queimadas, exibem tudo... até o corpo em fatos de banho de tamanho S, com o comentário "actual e sem photoshop" - assim mesmo. E muitos sorrisos; muita moda; muitas festas; muitos jantares; muito divertir - quase nunca se dizem felizes, a não ser em sticks usados em escala desabrida - muita mesa de jantares tardios e na mesa quatro elementos obrigatórios: álcool, café, tabaco e.... "smartphone". É preciso dizer a toda a gente que se está "ali" e que é tudo "Top", "Boa"; "Gata"; "Lindo"; "Máximo", enfim, elogios e mais elogios. É tudo fantástico. Tudo.
E a muitas destas pessoas, de vez em quando, apetece-lhes partilhar meditações, centradas sempre no Eu, na magia da liberdade, no viva a vida, no tudo é possível sem certo e errado e num puritanismo cândido de olhar a existência e "a passagem" por aqui.
Vejamos alguns excertos de "texto" de pessoas, com mais de 30 anos, atléticas, bronzeadas, giras e permanentemente divertidas:
"O que para uns é certo para outros é errado ... o respeito deve sempre existir mesmo que não concordemos ! Não há regras nem planos iguais ..não há formas de agir iguais ...não há nem nunca vai existir um plano a seguir para se ser feliz ...O problema é que vivemos num Mundo onde quase todos pensam mais na vida dos outros e ...todos acham que a forma deles é que é a forma certa de se viver sem saber o motivo porque os outros o fazem de outra forma ... eu aprendi porque tb já pensei assim... o importante é ser-se feliz sem desrespeitar ninguém ...sem subir por cima de alguém ..sem magoar outras pessoas e a viver-se a nossa vida porque se estivermos bem connosco próprios estamos bem para aceitar os outros !Estamos cá de passagem ...só vivemos uma vez e esta é a nossa vez e se a vivermos bem , uma vez é suficiente !Paremos de julgar ...paremos de criticar... Vivam a vida à vossa maneira e não da maneira que os outros acham certo e aconselham, pois se os conselhos fossem bons não se Davam, vendiam-se!"
O homem que escreveu este texto (aqui, corrigido ortográficamente) ganhou muitos gostos e respondeu orgulhoso a um comentário: "chamo-lhe maturidade e experiência".
"Já não tenho paciência para algumas coisas, não porque me tenha tornado arrogante, mas simplesmente porque cheguei a um ponto da minha vida em que não me apetece perder mais tempo com aquilo que me desagrada ou fere. Já não tenho pachorra para cinismo, críticas em excesso e exigências de qualquer natureza. Perdi a vontade de agradar a quem não agrado, de amar quem não me ama, de sorrir para quem quer retirar-me o sorriso. Já não dedico um minuto que seja a quem me mente ou quer manipular. Decidi não conviver mais com pretensiosismo, hipocrisia, desonestidade e elogios baratos. Já não consigo tolerar eruditismo selectivo e altivez académica. Não compactuo mais com bairrismo ou coscuvilhice. Não suporto conflitos e comparações. Acredito num mundo de opostos e por isso evito pessoas de carácter rígido e inflexível. Desagrada-me a falta de lealdade e a traição. Não lido nada bem com quem não sabe elogiar ou incentivar. Os exageros aborrecem-me e tenho dificuldade em aceitar quem não gosta de animais. E acima de tudo já não tenho paciência nenhuma para quem não merece a minha paciência."
É mais um texto (também corrigido) do mesmo homem, que excitado com o sucesso do primeiro, escreveu logo outro no dia seguinte. A última frase é o epitáfio da contradição e mata-o. Mas muitos "amigos" disseram que era "Top".
Há vários textos como este nas redes sociais, muito iguais, às vezes iguais, e muitas vezes inspirados em "escritores pop".
Mais um exemplo, agora de uma senhora, que escreveu assim ao acordar:
"Não importa se tens fama, estilo ou dinheiro, se não tiveres um coração humilde não vales nada..."
Esta é outra constante "destas" redes sociais : fama, estilo, dinheiro. Nunca, ou quase, se fala de conhecimento, obra feita, ganhar a vida, nada. Aliás a grande maioria tem ocupações leves e multifacetadas tipo "relações públicas", "agentes", "lojas online"....mas, parece muito, que o "cash" que os sustenta provém dos "sítios" do costume, mesmo aos 30 ou aos 40 anos: de expedientes incertos mas fashion, da família, dos pais. E sobra sempre emoção, coração.
Muitos gostam de tornar a sua vida emocional pública e multiplicam-se as declarações de amor sem fim e incondicional ao namorado do momento, ao pai, à mãe e, quando existem, aos filhos.
E o que motiva uma mulher de 45 anos, loura e bronzeada - pois claro - a publicar no facebook o local onde jantou, o bar onde foi e o clube noturno onde acabou a noite...de dia?
Benditas redes sociais que amplificam e aceleram o conhecimento sobre Nós, os humanos.
Isto é uma partilha. Nas redes sociais é hábito partilhar. Esta é uma partilha transcrita com tempo e modo, para dar tempo para pensar. Nem que seja só por um instante....
O que a seguir se partilha foi escrito por Pedro Santos Guerreiro, ontem, no Expresso:
"... Mas quando se viu esta semana a elite política portuguesa arrumar-se numa sala por causa do livro de Miguel Relvas percebemos que estamos com a cabeça na Grécia e os pés de molho. O Portugal ali representado é o mesmo T1 que sempre mandou nisto. Sai Salgado e sai Sócrates mas o sistema adapta-se como se fosse mercúrio, um líquido que não molha e que uma seta trespassa sem furar. Não foi uma reunião simbólica, foi hiperbólica. Estavam lá todos, os que sempre estiveram e os que sempre tentaram estar, na eterna cobiça de um lugar ao sol dos que têm poder e participam no negócio.
... Se restasse pudor, Miguel Relvas teria feito a reunião à porta fechada. A porta escancarou-se para demonstrar que há escândalos políticos sem mortes políticas. Ali o negócio é influência. E a influência estava ali vibrava e gritava: eles mandam. ..."
...e neste instante, o poder escrever, que aqui é o nosso poder, fica por aqui!
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