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O Interior

19.02.14

Portugal aposta em ser um meio-deserto, com mais de metade do seu território às moscas ou ocupado por meia-dúzia de desalinhados, ou deserdados, da sociedade e da vida.

Nos últimos tempos tenho passado pelo país profundo e não é difícil perceber que há uma parte do continente lusitano que está à beira do fim, do nada, do fundo.

Faltam pessoas.

Não se vêem crianças. Os mais velhos vão morrendo. Os de meia-idade partiram e não voltaram. Os jovens partem e não voltarão.

Faltam acessos.

O dinheiro do Portugal 2020 não quer mais estradas, nem acabar estradas inacabadas. O sítio vai continuar a ficar longe, às curvas, e com vias estreitas. O alcatrão a mais de ontem foi a menos por ali e agora é longe, perdão, tarde. 

Faltam hospitais.

O hospital fechou, faz tempo. O centro de saúde só abre de dia. A noite é para dormir, não é para ficar doente. A dor pode esperar: pelo dia seguinte, pelo transporte, pela sorte. Aguenta, aguenta.

Faltam empresas.

A fábrica fechou. A loja fechou. A residencial encerrou. E o café-restaurante ficou com o monopólio do vazio. Sem emprego, sem trabalho, falta o conteúdo da dignidade da subsistência e da sobrevivência.

Faltam escolas.

Ainda lá está o edifício, o espaço do recreio, o parque desportivo abandonado, no meio de um absurdo silêncio que apaga o imaginário da saudade do grito e das corridas das crianças. Fechou-se a educação.

Faltam tribunais.

Era ali. Ainda lá está a balança esculpida na parede, mas o juiz já lá não vai. Eram poucos os processos, faltavam crimes. A justiça foi-se embora. Uma injustiça.

Todas estas faltas se cruzam, provocam-se umas às outras, geram-se entre si e, entrelaçadas, matam tudo, até a esperança.

Casa vazias. Terrenos sem cultivo. Ruas desertas.

Sem estrada.

Sem hospital.

Sem trabalho.

Sem escola.

Sem tribunal.

Sem gente.

Não resta nada para além da natureza. Mas a natureza, com tanta solidão, voltou a ser selvagem.

Se não há lá nada, alguém decide que é para acabar. Acabou.

E não lhe chamem Interior! Ao nada chama-se nada.

E se nada for feito, vai tudo a eito. E o tudo resume-se assim: o Interior está f..... .

E Portugal vai ser metade.

 

(publicado, em 18 de Fevereiro de 2014, no jornal Folha do Centro )

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publicado às 13:31

Chuva

16.02.14

O tempo.

Quando temos tempo para respirar, olhamos o tempo.

O inverno faz tempo. A chuva molha o tempo.

A música da chuva suporta as palavras do tempo...das pessoas. 

  

 

As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

 Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

 São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

 Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

 A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

 Ai meu choro de moço perdido
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

 A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade

 

 

Chuva - Jorge Fernando (autor) 

http://www.youtube.com/watch?v=wz_mtNuSsTY

Chuva - Mariza (ao vivo)

http://www.youtube.com/watch?v=9yjtqXTZAGM

Chuva - Berg (ao vivo - Final factor X) 

http://www.youtube.com/watch?v=L6S2Trss1jw

 

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publicado às 21:33

 

Os olhos da Rádio, a pilhas ou em wi-fi, são a magia com Voz.

E todos continuamos a ver a Rádio.

 

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publicado às 13:34

"A ditadura do imediato e do falsamente evidente"

 

Foi com a ajuda de Henrique Monteiro, na sua crónica de hoje do semanário Expresso, que o acesso ás "Palavras Sábias" de Francisco Assis no Público, motivaram mais este especial do ca$h resto z€ro, que já vai na sua 24ª edição, sobre os regimes: a ditadura e/ou a democracia.

Todos os dias, todos os dias mesmo, há sempre alguém que se mostra preocupado com a democracia (ou com o regresso da necessidade da ditadura!!!) nas páginas dos jornais, nas rádios, nas TVs, nos blogues...e ás vezes, por sortilégio mas também pela qualidade, concorde-se ou não, o ca§h vai guardando (e interrogando) aqui "os contributos".

O Socialista Assis, homem que pensa bem e escreve da mesma maneira, reconciliou o jornalista Monteiro com o mundo, ao escrever:

 

«A cura para as novas democracias doentes, não reside essencialmente nos chavões mais ouvidos - mais participação, transparência e proximidade - mas na rarefação de políticos suficientemente corajosos para assumirem, com devida ponderação, algum distanciamento crítico face à ditadura do imediato e do falsamente evidente.

Não se afigura possível levar a cabo uma condigna ação política tendo por referência os arquétipos mentais prevalecentes na lógica comunicacional das redes sociais."

 

Assis faz ainda notar que, tal como em 1935 disse o Checo Husserl, o perigo da Europa é ser vencida pelo cansaço de um espírito crítico culto e exigente.

 

Num tempo em que um dos indicadores de medida da moda da classe política são os likes nos perfis, é possível que a economia de um país, como Portugal,  passe de uma espiral recessiva a uma recuperação fulgurante, num click.

No entretanto, o país, Portugal, passou os últimos dias em mais uma leva de idas ao circo dos casos:

- a discutir a co-adopção, sem que a grande maiora saiba sequer em que consiste!?

(quem paga o referendo desejado?)

- a discutir as praxes, sem que a grande maioria saiba sequer o que é!?

(quem paga o "dossier da praia do Meco"?) 

- a discutir Miró, sem que a grande maioria saiba sequer quem é?

(quem paga a propriedade, manutenção e exposição das pinturas do catalão adorado no BPN de Oliveira e Costa?) 

  

Ricardo Costa enganou-se, hoje, no Expresso, ao escrever que esta é "a cultura de um país sem juízo e sem dinheiro". Não, este é um país que teima em se governar sem dinheiro e...SEM JUÍZO.

 

Temos que acabar com a ditadura do imediato. Será tal possível em democracia?

 

 

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publicado às 18:34

Está feito!?

01.02.14

Está feito!

Os "Troikos" podem ir embora, ainda que com cautela...

 

Está feito!

Portugal, público e privado, empobreceu. Ganhamos menos. Gastamos menos. Somos menos. 

Trabalhamos mais. Portugal é o quarto país que mais horas trabalha na União Europeia, e em 2012 a nossa hora de trabalho custou €12,1, valor que compara com o custo médio da zona euro de €27,6...menos de metade!!! 

Pobrezinhos e honradinhos. Como deve ser.

 

Está feito!

A dívida pública, que tinha fatia gorda em mãos estrangeiras, agora está quase toda em "mãos nacionais"!

Foi importada. E não importa que esta importação não seja contada quando se contam as importações...em queda!

 

Está feito!

O PIB já cresce! O desemprego baixa! As exportações brilham!

Até o défice, que continua défice, já nem chega aos 5%...

 

Está feito!

E Portas, sim Portas, sim, custa até a acreditar que é o mesmo Portas do "irrevogável", que agora anuncia de tribuna e em tribuna que...

"Portugal is back"!

Assim mesmo, em Inglês, não vá o mundo não perceber...

Portas, tal como Portugal, conseguiu. Chegou a primeiro-ministro. A vice.

 

Está feito!

Com baixas. São assim as guerras. Nunca regressam todos. 

Com mais ou menos, com melhor ou pior austeridade, tinha que ser feito, quando se tem uma dívida tão grande e não se gera riqueza.

 

Está feito!

E está (quase) tudo na mesma.

Os ricos estão na mesma mais ricos. Os pobres estão na mesma. E quem pagou foi a mesma, a classe média.

O estado está no mesmo estado, sem reforma.

 

Está feito!

Mas a dívida não ficou na mesma: cresceu. E bem. E muito: €84,3 mil milhões, em quatro anos.

Em Dezembro de 2009 a dívida, sem sector financeiro, era de €658,9 mil milhões (391% do PIB) e agora são €743,3 mil milhões (449,5% do PIB).

A administração pública aumentou dívida, as empresas públicas não incluídas aumentaram dívida, as empresas privadas aumentaram dívida, só os particulares, sim as famílias, reduziram dívida.

É uma dívida que brilha...e que gerou o maior retorno do mundo, em Janeiro.

 

Está feito???

Ou estamos feitos?

Temos que nos livrar do peso da dívida...para sair do fundo.

Não há um fundo para guardar a nossa dívida?

Com esta dívida não é possível crescer, não é possível viver....

Com esta dívida, não há dúvida, que não vamos a lado algum.

E até se "arrumar" a dívida, o melhor é a Troika também não ir...o que resolve, por antecipação, o problema de ter que voltar!

 

 

Fontes: Expresso e Jornal de Negócios.

    

 

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publicado às 23:07


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