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Já está. O Governo tomou posse.
E Portugal precisa de governo.
Para ter governo, o país precisa de Cometimento, de Confiança e de Capital ou, como aqui se gosta de dizer, de Cash.
São 3 C's que o Governo precisa de assegurar para o país ter governo... e a primeira condição para chegar a qualquer dos C's é ter Governo.
Curiosamente também somam 3 C's as iniciais de três dos protagonistas da política nacional:
Catarina,
Cavaco, e
Costa.
A seguir, 3 sms's para os 3 C's.
Catarina: a Menina vive o grande momento da sua vida política, mas não se convença que agora é sempre a subir. Olhe que não, vai ser a descer e até pode parecer-lhe que vai a subir.
Como actriz que foi, sabe o que é o palco. Não se chegue muito à frente, pode cair. E desempenhe apenas e só o Seu papel. Não se deslumbre.
Cavaco: o Senhor ou diz o que deve mas não faz o que devia; ou faz o que deve e diz mais do que devia; ou não disse nada nem fez nada que a gente se lembre. É falta de jeito. Pouca sorte, Sua e nossa. E que jeito que dava o Senhor ter jeito para Presidente. Pelo menos uma vez, desta vez(?).
Costa: o Senhor perdeu as eleições.
Vamos deixar de lado a embrulhada democrática em que Portugal está metido, o politicamente correcto que diz que "as legislativas são diferentes das autárquicas" e o CDS-PP que, se o como sempre continuar, não vencerá eleições nacionais nem locais.
Vamos olhar para Aqui e para o PSD Daqui, de Oliveira do Hospital.
O PSD ganhou as legislativas de 2011, com o PS já a tomar conta do poder local, e ganhou as legislativas de 2015 após o PS ter esmagado o PSD nas eleições locais, apenas permitindo que este se sente no executivo do município numa só cadeira.
Em 40 anos de eleições parece evidente que Oliveira do Hospital é laranja, aliás em tempos até se dizia que fazia parte do cavaquistão!
Num contexto político extraordinariamente exigente - nunca um governo tirou tanto dinheiro a cada português - e após anos de pancada do actual executivo municipal no governo central, a Coligação ganhou em 14(!!!) das 16 freguesias do concelho. Com menos votos do que em 2011, mas ganhou…com mais de 5 mil votos.
Ora, esta votação foi uma estalada - PAF! - sem dó nem piedade, naqueles que têm dirigido o PSD local:
PAF! - Deve ter doído, ainda dói, vai continuar a doer.
Como é possível o PSD ganhar duas legislativas em Oliveira do Hospital, no actual contexto político e económico, e, no entretanto, o PSD local sofrer a maior e mais humilhante derrota de sempre nas autárquicas?
Pode existir muita razão, justificação e causa, mas é preciso que os dirigentes laranja locais vão até ao espelho perguntar:
- Diz-me espelho meu, será que o culpado sou eu?
Do outro lado do espelho deve estar José Carlos Alexandrino, a sorrir: o PS com ele ganhou à primeira e “goleou” à segunda, num território pouco dado a votar à esquerda, mesmo que em tons rosa. Ganhou como nunca ninguém ganhou e, dificilmente, o PS, sem Ele, se e quando voltar a ganhar, ganhará assim.
PAF, PAF. No PSD e no PS. Assim bate o "independente" Alexandrino- sem luva branca.
(publicado no jornal Folha do Centro, 13 de Outubro 2015)
Portugal foi a votos. Portugal ficou pior do que estava.
Quem ganhou, não tem maioria para governar. (Passos como Sócrates quando perdeu a maioria... e Sócrates governou até ao dia que Passos deixou...)
Quem perdeu, pode somar votos para governar, a três, em maioria...com ideias que não somam.
Nada faz sentido.
Cavaco, o Presidente, quer um governo com todos, e assim acabar com a alternativa que é base da democracia.
Costa, o derrotado, parece querer(?) ser primeiro ministro, com o "seu" PS que perdeu em toda a linha - nem o PSD ultrapassou na AR - e com o apoio do BE e do PCP...que tanto mal lhe fizeram e dele disseram.
O PCP que não quer a Europa nem o Euro, mas quer o PS no governo!...e um ex-padre madeirense em Belém!!!
Nada faz sentido.
Portugal é um êxito para a política europeia mas um problema económico, com uma dívida pública de 2015 em 130% do PIB, com desemprego elevado, limites de défice ultrapassados, sem crescimento e a dever mais dinheiro ao estrangeiro do que em 2011. E pendurado no benefício do momento de juros baixos e petróleo a preço de saldo.
Nada faz sentido.
Quem ganha deve governar e a maioria só devia ser necessária para três ou quatros decisões de âmbito estrutural.
Assim faria sentido, mas não faz, porque não é assim que está escrito nos livros da lei.
Vamos ter que ir a votos outra vez. Mais cedo ou mais tarde. Que pena não poder ser já...
Portugal não se governa em minoria, e não pode ser governado pela maioria que perdeu.
Não faz sentido. Não é sério.
Portugal governa-se com quem ganha nas urnas: se somar uma maioria, melhor...e mesmo assim, sabe Deus!...
Os quatro pilares da democracia
A defesa da liberdade e da democracia depende em primeiro lugar dos povos. Se estes não quiserem a democracia, será difícil criá-la. Dito isto, que não chega, há mais. A democracia é uma construção difícil e longa. É uma convenção complexa. É uma organização frágil, condicionada pela circunstância e pelos costumes. Pelas instituições e pelos políticos...
Tendo durado quase quarenta anos, o edifício da democracia portuguesa está construído sobre quatro pilares. Frágeis e actualmente sob ameaça.
O acordo constitucional. Serviu para fundar o Estado de direito democrático. Apesar das reticências, até o CDS aderiu. E o PCP também, mas forçado. Depois, foi-se fazendo um compromisso de revisão entre o PSD, o PS e o CDS. Todos com vontade de rever, desde que lhes convenha o momento. Curiosamente, o mais rígido defensor da Constituição é o PCP, único partido que explicitamente considera a democracia parlamentar como um regime transitório... Este consenso está hoje em crise séria, talvez sem remissão. A ruptura dos últimos anos entre o PS e o PSD parece irreversível. Quem quer rever a Constituição não tem força para isso. Não parece haver uma maioria de defesa nem de revisão da Constituição.
O Estado social. Com uns pormenores datando dos anos 1960, o actual Estado social é essencialmente obra da democracia, que o criou e dele se alimentou. O Estado social manteve o consenso constitucional. Todos, no Parlamento e no governo, ajudaram. Os partidos de direita e os mais liberais, se é que estes existem, contribuíram. Os de esquerda também. Ninguém quis perder uma oportunidade para aumentar prestações, subsídios, pensões e abonos. A democracia agradou à população enquanto o Estado social parecia rico e generoso. Este, agora, sem meios nem demografia, está a desfazer-se aos poucos. Nas últimas eleições, percebeu-se, a este propósito, a crispação entre partidos. Sem crescimento económico não há Estado social. Sem um compromisso entre partidos, muito menos.
A União Europeia. Depois de África, a Europa foi a casa de refúgio. A direita e a extrema-esquerda começaram por ser contra. Socialistas e alguns "liberais" foram pioneiros. Lentamente, quase todos aderiram e gostaram. Até os comunistas, ainda hoje nada europeístas, aproveitaram o que puderam para os seus autarcas e para os investimentos públicos. Este pilar foi sobretudo válido como garante e factor de coesão nacional, enquadramento internacional e coesão social. Foi a mais importante fonte de recursos para investimento. Nos próximos anos, depois do falhanço da coesão europeia, o papel da UE, como factor de democracia em Portugal, será difícil. Com a adesão da União e do BCE aos programas de assistência (vulgo troika), muitos portugueses deixaram de olhar para esta Europa com simpatia e interesse. É o caso do Bloco e de parte dos socialistas, que se juntam ao PCP. A crise financeira e política europeia, a crise dos refugiados, as contradições crescentes entre Estados, a irresistível supremacia alemã, o apagamento francês, o "separatismo" britânico e os tormentos gregos mostram uma União perturbada, incapaz de segurar as forças centrífugas.
A aliança entre o Estado e os negócios. Uns chamam-lhe promiscuidade. Outros dizem que é corrupção. Há quem pense que são inimigos perigosos da democracia. A longo prazo, é verdade: são a sua destruição. Mas infelizmente, a curto prazo, podem ser, como têm sido em Portugal, factores de sustento e funcionamento da democracia. Aquela aliança criou investimentos e oportunidades, fomentou o emprego, distribuiu rendimentos, alimentou partidos e empresas, fez obras públicas, projectou empresas para o estrangeiro e foi viveiro de negócios. Velhos ricos, partidos políticos, grandes grupos privados, empresas públicas, companhias multinacionais, bancos, empresas de construção e de serviços públicos, novos-ricos de colheita recente e grupos financeiros de origem incerta ganharam e tiveram o seu ciclo de riqueza, fama e viço. Os protagonistas foram os suspeitos habituais ou não. De um lado, os chamados partidos de governo, o Estado central, as autarquias e as empresas públicas. Do outro, alguns grupos económicos nacionais, uma parte da banca, algumas multinacionais e um rosário de empresas especializadas nas encomendas do Estado ou nos seus concursos de obras e de fornecimentos. A matéria era vasta: estradas, energia, água, construção, cimentos, transportes, banca, telecomunicações, equipamento militar... Os elementos de ligação eram os concursos públicos, as adjudicações directas, as encomendas, as parcerias público privadas, as privatizações... Poucos criaram riqueza. Muitos compraram o que havia. Alguns foram mesmo capazes de comprar para destruir. Esta aliança parece estar em fase de ruptura. Depois de terem deixado desenvolver-se os negócios e a dívida, a troika e as entidades internacionais necessitam agora de ter garantias de honestidade nas relações entre o Estado e os negócios. Além de que não há dinheiro nem crédito fácil. E tudo leva a crer que os dinheiros europeus não serão mais portas abertas ou mãos rotas...
Com estes quatro pilares ameaçados, como poderá segurar-se a democracia portuguesa? Era bom que as soluções de governo que se preparam estivessem à altura destas ameaças.
António Barreto
(publicado no Diário de Notícias, 11 de Outubro de 2015)
nota: "Precisamos de uma ditadura?" é uma série de textos de ca$h resto z€ro dedicada a discutir a democracia.
A maioria de Nós não quer saber da maioria deles.
Foi este o resultado mais relevante da noite eleitoral de 4 de Outubro.
Quem não votou, se fosse um partido, ganhava a maioria. E a maioria que votou, não quis dar a maioria a quem quer que fosse para governar.
A noite eleitoral do primeiro domingo de Outubro foi uma noite de derrotas.
Perdeu a democracia com tanto voto perdido na maior abstenção de sempre em eleições legislativas, Perdeu a coligação PSD/CDS-PP que perdeu a maioria.
Perdeu o PS que não ganhou a maioria e que viu a outra esquerda ganhar mais peso na maioria da sua esquerda.
Perdeu a CDU que agora está em terceiro à esquerda e perderam os dissidentes "bem pensantes": o Marinho, o Rui, a Ana e a Joana.
Perdeu Portugal que está metido num grande imbróglio político, sob um sufoco económico e financeiro e, não deverá tardar muito, voltará a votar.
Festejaram as meninas do Bloco uma votação record que as coloca no terceiro lugar do pódio partidário e "os animais" do PAN que chegaram à Assembleia, numa noite de chuva de perdas.
A maioria de Nós não quer saber da maioria deles.
(publicado em radioboanova.com, 5 de Outubro de 2015)
ps.: o concelho de Oliveira do Hospital voltou a dizer nas urnas que vota à direita! Tal facto devia fazer pensar os respectivos partidos na razão pela qual, nas Autárquicas, a esquerda ganha e por tantos....
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